Saturday, April 28, 2012
Violetas
Maria era assim simples no que dizia .
O que ela pensava era também assim .
Tudo à sua volta era mesmo assim .
Enquanto um inconturbável fio de cabelo branco
na bela cabeça enternecia lembranças
e também era simplesmente assim.
José Craveirinha
Wednesday, April 25, 2012
Friday, April 20, 2012
Violetas
Da minha aldeia vejo quando da terra se pode ver
no Universo . . .
Por isso a minha aldeia é grande como outra qualquerno Universo . . .
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura . . .
- Nas cidades a vida é mais pequena
que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave ,
escondem o horizonte , empurram nosso olhar para
- longe de todo o céu .
- Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar ,
- e tornam-nos pobres porque a única riqueza é ver .
Alberto Caeiro _ O Guardador de rebanhos _
Friday, April 13, 2012
Alfazema
Que vens contar-me
se não sei ouvir senão o silêncio ?
Estou parado no mundo.
Só sei escutar de longe
antigamente ou lá para o futuro.
É bem certo que existo . . .
Chegou-me a vez de escutar.
Que queres que te diga
se não sei nada e desaprendo ?
A minha paz é ignorar.
Aprendo a não saber . . .
Que a ciência aprenda comigo
já que não soube ensinar.
O meu alimento é o silêncio do mundo
que fica no alto das montanhas
e não desce à cidade
e sobe às nuvens que andam à procura de forma
antes de desaparecer.
Para que queres que te apareça
se me agrada não ter horas a toda a hora ?
A preguiça do céu entrou comigo
e prescindo da realidade como ela prescinde de mim.
Para que me lastimas
se este é o meu auge ?!
Eu tive a dita de me terem roubado tudo
menos a minha torre de marfim.
Jamais os invasores levaram consigo as nossas
torres de marfim.
Levaram-me o orgulho todo
deixaram-me a memória envenenada
e intacta a torre de marfim.
Só não sei que faça da porta da torre
que dá para donde vim.
José de Almada Negreiros
Monday, April 09, 2012
Friday, April 06, 2012
Alfazema
Se o meu desgosto é ser , na grande Teia ,
mensagem virtual ou sopro vago ,
talvez me queiras tu dar o teu rosto,
e eu ,
no teu corpo me transforme , em alma .
António Franco Alexandre
Monday, April 02, 2012
Violetas
Uma pequenina luz bruxuleante
não na distância brilhando no extremo da estrada
aqui no meio de nós e a multidão em volta .
une toute petite lumière
just a little light
una picolla... em todas as línguas do mundo
uma pequena luz bruxuleante
brilhando incerta mas brilhando
aqui no meio de nós
entre o bafo quente da multidão
a ventania dos cerros e a brisa dos mares
e o sopro azedo dos que a não vêem
só a adivinham e raivosamente assopram .
Uma pequena luz
que vacila exacta ,
que bruxuleia firme ,
que não ilumina apenas brilha.
Chamaram-lhe voz ouviram-na e é muda .
Muda como a exactidão , como a firmeza ,
como a justiça.
Brilhando indeflectível.
Silenciosa não crepita
não consome não custa dinheiro .
Não é ela que custa dinheiro .
Não aquece também os que de frio se juntam .
Não ilumina também os rostos que se curvam.
Apenas brilha bruxuleia ondeia
indefectível próxima dourada .
Tudo é incerto ou falso ou violento ... brilha .
Tudo é terror vaidade orgulho teimosia ... brilha .
Tudo é pensamento realidade sensação saber ... brilha .
Tudo é treva ou claridade contra a mesma treva ... brilha .
Desde sempre ou desde nunca para sempre ou não ... brilha .
Uma pequenina luz bruxuleante e muda
como a exactidão como a firmeza
como a justiça .
Apenas como elas .
Mas brilha .
Não na distância .
Aqui
no meio de nós .
Brilha .
Jorge de Sena _ Antologia Poética _
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