Olho por olho , e o mundo ficará cego .











Mahatma Gandhi









Saber


Vi _Ver .



Friday, May 28, 2010

Alfazema .


*
Se fosses luz serias a mais bela
de quantas há no mundo ... _ a luz do dia
!

Bendito seja o teu sorriso
que desata a inspiração
Da minha fantasia
!
Se fosses flor , serias o perfume
concentrado e divino que perturba
o sentir de quem nasce para amar
!

Se desejo o teu corpo é porque tenho
dentro de mim
a sede e a vibração de te beijar
!

Se fosses água , música da terra ,
serias água pura e sempre calma
!

Mas de tudo que possas ser na vida
Só quero , meu amor, que sejas alma
!
*
*
António Botto _ Rosa do Mundo, 2001 Poemas para o Futuro _

Saturday, May 22, 2010

Violetas .



Esse que em mim envelhece
assomou ao espelho
a tentar mostrar que sou eu .

Os outros de mim
fingindo desconhecer a imagem ,
deixaram - me , a sós , perpelexo ,
com o meu súbito reflexo .

A idade é isto . . .

o peso da luz
com que nos vemos .
*
Mia Couto _ idades , cidades , divindades _

Thursday, May 13, 2010

Alfazema .



Feita toda de gesso
só os pés de ouro .
Como pô - la erecta
se te derrete nas mãos ,
os olhos de vidro prestes a rolarem ?
Deixa - a ficar de joelhos
e esquece - a .
Não quero ver - te levantar de novo
para segurá - la .


Hristós Valavanídis _ Rosa do Mundo 2001 poemas para o futuro _

Saturday, May 08, 2010

Violetas .



Aqui, na Terra, a fome continua .
A miséria , o luto , e outra vez a fome.

Acendemos cigarros em fogos de napalme
E dizemos amor sem saber o que seja.
Mas fizemos de ti a prova da riqueza ,
E também da pobreza , e da fome outra vez.
E pusemos em ti sei lá bem que desejo
De mais alto que nós, e melhor e mais puro.

No jornal, de olhos tensos, soletramos
As vertigens do espaço e maravilhas ...
Oceanos salgados que circundam
Ilhas mortas de sede, onde não chove.

Mas o mundo, astronauta , é boa mesa
Onde come, brincando, só a fome,
Só a fome, astronauta, só a fome .
E são brinquedos as bombas de napalme.

José Saramago
_ Poemas possíveis _

Saturday, May 01, 2010

Alfazema .



A rectidão da água , o crescimento
das avenidas , ao anoitecer , sob a nua
vibração dos faróis .

o laço, mesmo, das portas só
entreabertas, onde a luz
silenciosa se demora;

são memórias, decerto, de um anterior
esquecimento, uma inocente
fadiga das coisas ,

como os corpos calados, abandonados
na véspera da guerra, o teu
jeito para

o desalinho branco das palavras,
altas as
asas de nuvens no clarão do céu

em vão rigor abrindo
o destinado enigma ... assim
desconhecer-te cada dia mais

ausente de recados e colheitas ,
em assustado bosque, em sombra
clareira ,

ao risco dos rios frívolos descendo
seixos polidos , desinscritos ,
imóveis movendo

a luz do dia ,
a margem recortada , aonde vivem
ausentes e seguros , os luminosos

animais do inverno .
Assim são na verdade os muros claros ,
assim respira o tempo , a terra intensa.


António Franco Alexandre