Olho por olho , e o mundo ficará cego .











Mahatma Gandhi









Saber


Vi _Ver .



Saturday, July 30, 2011

VIoletas













Diz- me devagar coisa nenhuma ,
assim a só presença com que me perdoas  esta  fidelidade  ao  meu  destino .
Quando assim não digas é por mim  que  o  dizes .
 E os destinos vivem - se  como  outra  vida .
Ou como solidão .
E quem lá entra ? E quem lá pode estar
mais que o momento de estar só comigo ?

Diz - me assim devagar ,  coisa nenhuma ...
o que à morte se diria , se ela ouvisse ,
ou se diria aos mortes , se voltassem .


Jorge de Sena _ Quinze poetas portugueses do século XX _

Thursday, July 21, 2011

Alfazema



















Eu queria escrever-te uma carta
amor ,
uma carta que dissesse
deste anseio de te ver ,
deste receio de te perder ,
deste mais que bem querer que sinto
deste mal indefinido que me persegue
desta saudade a que vivo todo entregue . . .
Eu queria escrever-te uma carta
amor,
uma carta de confidências íntimas,
uma carta de lembranças de ti ,
de ti ...
dos teus lábios vermelhos como tacula
dos teus cabelos negros como dilôa
dos teus olhos doces como macongue
dos teus seios duros como maboque
do teu andar de onça
e dos teus carinhos
que maiores não encontrei por aí . . .
Eu queria escrever-te uma carta
amor ,
que recordasse nossos dias na capôpa
nossas noites perdidas no capim
que recordasse a sombra que nos caía dos jambos
o luar que se coava das palmeiras sem fim
que recordasse a loucura da nossa paixão
e a amargura da nossa separação.
Eu queria escrever-te uma carta
amor ,
que a não lesses sem suspirar ,
que a escondesses de papai Bombo
que a sonegasses a mamãe Kiesa .
que a relesses sem a frieza do esquecimento .
uma carta que em todo o Kilombo
outra a ela não tivesse merecimento . . .
Eu queria escrever-te uma carta
amor ,
uma carta que ta levasse o vento que passa
uma carta que os cajus e cafeeiros , que as hienas e palancas , que os jacarés e bagares
pudessem entender
para que se o vento a perdesse no caminho , os bichos e plantas compadecidos do nosso pungente sofrer,
de canto em canto
de lamento em lamento
de farfalhar em farfalhar ,
te levassem puras e quentes , as palavras ardentes , as palavras magoadas
da minha carta
que eu queria escrever-te amor .
Eu queria escrever-te uma carta . . .
Mas , ah , meu amor , eu não sei compreender por que é , porque é , meu bem
que tu não sabes ler ,
e
eu , oh , desespero , não sei escrever , também !



António Jacinto

Thursday, July 14, 2011

Violetas























Não deram resultado todas as esperanças,
que
eu tinha posto nos dias de hoje !


Mas amanhã , se Deus quiser ,
logo de manhã , muito cedinho,
todas as esperanças começam outra vez , à procura da
mimha vez !


Almada   Negreiros

Friday, July 08, 2011

Alfazema
























Não 
há , duas folhas iguais em toda a criação.
Ou nervura a menos , ou célula a mais , não há , de certeza , duas folhas iguais.
Limbo todas têm , que é próprio das folhas.
Pecíolo algumas , bainha nem todas.
Umas são fendidas , crenadas , lobadas , inteiras , partidas ,
 singelas  ,  dobradas.
Outras acerosas , redondas , agudas , macias , viscosas , fibrosas , carnudas.
Nas formas presentes , nos actos distantes , mesmo semelhantes são sempre diferentes.


Umas vão e caem no charco cinzento  , e lançam apelos nas ondas que fazem.
Outras vão e jazem sem mais movimento .
Mas outras não jazem , nem caem , nem gritam ... apenas volitam nas dobras do vento.
É dessas que eu sou .!




António   Gedeão

Friday, July 01, 2011

Violetas
















Eu trago-te nas mãos o esquecimento ,
Das horas más que tens vivido , amor !
E para as tuas chagas o unguento
Com que sarei a minha própria dôr .


Os meus gestos são ondas de sorrento ,
Trago no nome as letras de uma flor .
Foi dos meus olhos garços que um pintor
Tirou a luz para pintar o vento  ...


Dou-te o que tenho ... o astro que dormita ,
O manto dos crepúsculos da tarde,
O sol que é d'oiro, a onda que palpita,


Dou-te comigo o mundo que Deus fez  !
Eu sou aquela de quens tens saudade ,
A princesa do conto ... " Era uma vez ... "




Florbela Espanca