
Que poisam sobre duas violetas,
Asas leves cansadas de voar...
E a minha boca tem uns beijos mudos...
E as minhas mãos, uns pálidos veludos,
Traçam gestos de sonho pelo ar...
Pela Cor e pelo Aroma
... pegai na lira ,
Cantai um seio de violetas .
... porque o pranto na casa do poeta
não é permitido ,
nem isso nos convém . . .
Safo
Um dia
o sonho despertou suavemente...
Flores coloridas dão um brilho perfumado
Ao voo encantado dos sentidos...
Ondas sonolentas salpicam memórias
Pintando quadros iluminados...
Brilhos celestiais envolvem sensualidades
Sorvendo carinhos transparentes...
Melodias encantadas escorrem delicadamente
Por entre aromas apaixonados...
Abrem-se as janelas do infinito ...
Absorvemos o esplendor do tempo adormecido
E
lentamente , descobrimos o amor
sabendo bem que eras somente onda ,
sabendo bem que eras nuvem . . . depus a minha vida em ti ... !
Como sabia bem tudo isso , e dei-me ao teu destino frágil ...
e
fiquei sem poder chorar, quando caí . !
*
*
Cecilia Meireles
Abrindo o ar
com o corpo num só golpe .
Soltas,
voando
até chegar ao fim .
Dizem-nos ...
que nos limitemos ao espaço .
Mas nós voamos
também
debaixo de água .
Nós somos os anjos
deste tempo .
Astronautas ,
voando na memória
nas galáxias do vento...
Temos um pacto
com aquilo que
voa
– as aves
da poesia
– os anjos
do sexo
– o orgasmo
dos sonhos
Não há nada
que a nossa voz não abra .
Nós somos as bruxas da palavra !
Maria Teresa Horta
Sê paciente ...
espera que a palavra amadureça ...
e
se desprenda , como um fruto , ao passar o vento
que a mereça. !
Eugénio de Andrade
Sábias agudezas , refinamentos... não!
Nada disso encontrarás aqui.
Um poema não é para te distraíres como com essas imagens mutantes de caleidoscópios.
Um poema não é quando te deténs para apreciar um detalhe . Um poema não é também quando paras no fim , porque um verdadeiro poema continua sempre...
Um poema que não te ajude a viver e não saiba preparar-te para a morte não tem sentido.
É um pobre chocalho de palavras.
Mario Quintana
Se
tu viesses ver-me hoje à tardinha,
a essa hora de mágicos cansaços,
quando a noite de manso se avizinha ,
e me prendesses toda nos teus braços ...
Os teus braços / os teus beijos / a tua mão na minha
Se tu viesses quando linda e louca . . .
Quando os meus olhos se cerram de desejo e os meus braços se estendem para ti . . . !
Florbela Espanca
I am a |