Olho por olho , e o mundo ficará cego .











Mahatma Gandhi









Saber


Vi _Ver .



Sunday, June 12, 2011

alfazema














Pinta primeiro uma gaiola
com a porta aberta .
pinta a seguir
qualquer coisa bonita ,
qualquer coisa simples ,
qualquer coisa bela ,
qualquer coisa útil ,
para o pássaro.
Agora encosta a tela a uma árvore
num jardim
num bosque
ou até numa floresta .
esconde-te atrás da árvore
sem dizeres nada ,
sem te mexeres…
às vezes o pássaro não demora ,
mas pode também levar anos
antes que se decida.
Não deves desanimar ,
espera .
espera anos se for preciso .
a rapidez ou a lentidão da chegada
do pássaro não tem qualquer relação
com o acabamento do quadro.
Quando o pássaro chegar ,
se chegar ,
mergulha no mais fundo silêncio .
espera que o pássaro entre na gaiola
e quando tiver entrado
fecha a porta devagarinho .
com o pincel ,
depois ,
apaga uma a uma todas as grades
com cuidado não vás tocar nalguma das penas .
Faz a seguir o retrato da árvore
escolhendo o mais belo dos ramos
para o pássaro .
pinta também o verde da folhagem a frescura do vento
e agora espera que o pássaro se decida a cantar .
se o pássaro não cantar
é mau sinal .
é sinal que o quadro não presta .
mas se cantar é bom sinal ,
sinal de que podes assinar .
então arranca  , com muito cuidado ,
uma das penas do pássaro ,
e escreve o teu nome num canto do quadro .




Jacques  Prévert

12 comments:

Luis Filipe Gomes said...

Sem poesia, pintei folhas verdes numa dessas casotas de madeira para piriquitos, suspendi-a na trave que segura o telhado da pequena garagem. Na ponta da trave há um ninho de chapim.
Na porta de entrada da loja sob a varanda estão dois ninhos de andorinha invulgares porque foram construídos com tubo de acesso.
Na porta grande de correr da loja do lado do campo está um ninho que já foi de uma carriça e agora é de uma milheirinha.
São estes os meus pássaros, apanho-lhes as penas que tombam no chão, guardo-as entre páginas dos cadernos.

Lilazdavioleta said...

Luis ,

o que descreveste é mais que poesia .

Também apanho penas , nas ruas e nos jardins , e faço - lhes o mesmo .
Vão fazer companhia ás folhas das árvores .

É tão bom ter estes tesouros .

AC said...

Maria,
Há posts que dispõem bem, que vão ao encontro do nosso desejo de harmonia. Este é um deles.

Beijo :)

Miguel said...

Minha cara Lilaz, sim, assinar nossos nomes, nossos amores, nossas ilusões com as penas dos pássaros, no quadro de nossas vidas.

Beijo amiga, sublime teus dizeres.

Atitude do pensar said...

Será que o esperar dói somente em mim? Penso que não, mas descobri que posso pintar, assim ele se torna menos doído...

Smareis said...

Que linda poesia. Me vejo pintando meu coração com suas palavras. Um Abraço!

Rua Sem Dono said...

Cor da Flor!

"então apanha, com muito cuidado,
uma das penas do pássaro, que caiu,
e escreve o teu nome num canto do quadro .”


Beijos

Lilá(s) said...

Perfeita harmonia entre o texto e a imagem! e olha passava umas horitas encantadoras debruçada nessa janelinha!
Bjs

Audrey Andrade said...

Que linda poesia que nos faz viajar... e como não sou pintora e gosto de pássaros livres, também tenho meu companheiros da manhã. Todos os dias - e cada dia aumenta mais - eles me aguardam com seu catarolar, jogar-lhes pedaços de pão. Eu alimento seus corpinhos e eles a minha alma!

Meu carinho!
http://pequenocaminho.blogspot.com

A.S. said...

Muito belo!...

Beijos meus querida!
AL

Mariazita said...

Olá Maria, bom dia!
Assim se deve proceder na vida: atrair o amor mas não lhe colocar grades, antes arranjar-lhe um "ramo" a seu gosto, onde possa instalar-se com conforto.
Muito lindo, o poema.

Bom fim de semana. Beijinhos

Emília Pinto said...

Oi Lilazdaviloleta!
Passei e fiquei!
Gostei e só para lembrar que conheço uma canção brasileira que diz " O passarinho
quando canta na gaiola,ele não canta, ele pede para ir embora".
Tem de haver liberdade!Mas...
Há liberdade com grades!.
|Até breve
Herminia