/ Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia E para onde ele vai E donde ele vem . E por isso , porque pertence a menos gente , É mais livre e maior o rio da minha aldeia . Pelo Tejo vai-se para o Mundo . Para além do Tejo há a América E a fortuna daqueles que a encontram . Ninguém nunca pensou no que há para além Do rio da minha aldeia .
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada . Quem está ao pé dele está só ao pé dele .
Mãe ! ata as tuas mãos às minhas e dá um nó-cego muito apertado ! Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa. Como a mesa. Eu também quero ter um feitio que sirva exactamente para a nossa casa , como a mesa. Mãe ! passa a tua mão pela minha cabeça !
Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade !
Senhor , a noite veio e a alma é
vil . Tanta foi a tormenta e a vontade ! Restam-nos hoje, no silêncio
hostil, O mar universal e a saudade.
Mas a chama, que a vida em nós
criou , Se ainda há vida ainda não é finda. O frio morto em cinzas a
ocultou ... A mão do vento pode ergue-la ainda .
Dá o sopro , a aragem , ou desgraça ou ânsia , Com que a chama do esforço se remoça , E outra vez
conquistaremos a distância , Do mar ou outra , mas que seja nossa !
Sonhos enormes como cedros , que é preciso trazer de longe aos ombros para achar no inverno da memória este rumor de lume ... o teu perfume , lenha da melancolia .
Procura acrescentar um côvado à tua altura . Que o mundo está
à míngua de valores e um homem de estatura justifica
a existência de um milhão de pigmeus a navegar na rota
previsível entre a impostura e a mesquinhez dos filisteus .
Ergue-te desse oceano que dócil se derrama sobre a areia e
busca as profundezas , o tumulto do sangue a irromper na veia
contra os diques do cinismo e os rochedos de torpezas
que as nações antepõem a seus rebeldes . Não te rendas jamais ,
nunca te entregues , foge das redes , expande teu destino . E
caso fiques tão só que nem mesmo um cão venha te lamber a mão , atira-te contra as escarpas de tua angústia e explode
em grito , em raiva , em pranto .