Olho por olho , e o mundo ficará cego .











Mahatma Gandhi









Saber


Vi _Ver .



Saturday, March 30, 2013

Violetas
















Livrai - me ,  Senhor  ,
De  tudo  que  for
Vazio  de  amor .





Carlos   Queirós

Sunday, March 24, 2013

Alfazema























 
Encontraste-me um dia no caminho
Em procura de quê , nem eu o sei.
Bom dia , companheiro , te saudei ,
Que a jornada é maior indo sozinho .
 
É longe , é muito longe , há muito espinho !
Paraste a repousar , eu descansei ...
Na venda em que poisaste , onde poisei ,
Bebemos cada um do mesmo vinho.
/ 
Fez-nos bem , muito bem , esta demora ...
Enrijou a coragem fatigada ...
Eis os nossos bordões da caminhada ,
Vai já rompendo o sol . . .  vamos embora.
 
Cada um por seu lado  ! ...  Eu vou sozinho ,
Eu quero arrostar só todo o caminho ,
Eu posso resistir à grande calma  ! ...
 
Deixai-me chorar mais e beber mais ,
Perseguir doidamente os meus ideais ,
E ter fé e sonhar , encher a alma.



Camilo Pessanha

Saturday, March 16, 2013

Violetas


















Senhor ,  que   ao  menos  a   infância   permaneça .
 






Manuel  António  Pina 

Saturday, March 09, 2013

Alfazema

















Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói ,
assim me aproximo de ti , Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos
,
aprendi a ter coragem .


Tu sabes ,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim .
E não dizemos nada .
Na segunda noite ,  já não se escondem . . .

pisam as flores ,
matam nosso cão ,
e não dizemos nada.

Até que um dia ,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa ,
rouba-nos a luz ,

e ,
conhecendo nosso medo ,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada .


Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror .
Os humildes baixam a cerviz  ,

e nós , que não temos pacto algum
com os senhores do mundo ,
por temor nos calamos .
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante  ...

mas manhã , diante do juiz ,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.


Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras .
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência
A mim , quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão .
Mas eu sei ,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar , que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.


Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado ,
no plantio

Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós .
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.


E por temor eu me calo ,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade ,
procurando , num sorriso ,
esconder minha dor
diante de meus superiores .
Mas dentro de mim ,
com a potência de um milhão de vozes ,
o coração grita . . .

MENTIRA !





Eduardo Alves da Costa


Saturday, March 02, 2013

violetas

 





 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
. . .

Toda a manhã que raia, raia sempre no mesmo lugar .

Eu adoro todas as coisas  .
E o meu coração é um albergue aberto toda a noite .
Tenho pela vida um interesse ávido
Que busca compreendê-la sentindo-a muito .
Amo tudo , animo tudo , empresto humanidade a tudo ,
Aos homens e às pedras , às almas e às máquinas ,
Para aumentar com isso a minha personalidade .

Pertenço a tudo para pertencer cada vez mais a mim próprio .
E a minha ambição era trazer o universo ao colo

Como uma criança a quem a ama beija .

Dá-me lírios , lírios
E rosas também .
Dá-me rosas , rosas ,
E lírios também ,
Crisântemos , dálias ,
Violetas , e os girassóis
Acima de todas as flores ...

Deita-me as mancheias ,
Por cima da alma ,
Dá-me rosas , rosas
,
E lírios também ...

Minha dor é velha
Como um frasco de essência cheio de pó .
Minha dor é inútil
Como uma gaiola numa terra onde não há aves ,
E minha dor é silenciosa e triste
Como a parte da praia onde o mar não chega.

Dá-me rosas , rosas ,
E lírios também
...

 

 
 
Álvaro de Campos