Sunday, February 24, 2013
Afazema
Elas são as mães . . .
rompem do inferno , furam a treva ,
arrastando
os seus mantos na poeira das estrelas .
Animais sonâmbulos ,
dormem nos rios , na raiz do pão .
Na vulva sombria
é onde fazem o lume ,
ali têm casa .
Em segredo , escondem
o latir lancinante dos seus cães .
Nos olhos , o relâmpago
negro do frio .
Longamente bebem
o silêncio
nas próprias mãos .
O olhar
desafia as aves . . .
o seu voo é mais fundo .
a escutar
os passos do crepúsculo .
Despem-se ao espelho
para entrarem
nas águas da sombra .
É quando dançam que todos os caminhos
levam ao mar .
São elas que fabricam o mel ,
o aroma do luar ,
o branco da rosa .
Quando o galo canta
Desprendem-se
para serem orvalho .
Eugénio de Andrade
Saturday, February 16, 2013
Violetas
A minha alma fugiu pela Torre Eiffel acima ,
_ a verdade é esta , não nos criemos mais ilusões _
Fugiu , mas foi apanhada pela antena da t. s. f. ,
que a transmitiu pelo infinito , em ondas hertzianas . . .
Em todo o caso , que belo fim para a minha Alma ! . . .
Mário de Sá Carneiro
Saturday, February 09, 2013
Alfazema
Não era o quarto de nenhum de nós ,
mas a ele regressávamos sempre com a pressa
de quem anseia os cheiros quentes e antigos da casa conhecida .
Como quem espera ser aguardado .
Pressenti , porém , que não era eu quem aguardavas . . .
Uma noite , pedi - te mais um cobertor em vez de um abraço .
Maria do Rosário Pedreira
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