Saturday, November 24, 2012
Violetas
Este homem que entre a multidão
enternece por vezes destacar
é sempre o mesmo aqui ou no japão
a diferença é ele ignorar .
Muitos mortos foram necessários
para formar seus dentes um cabelo
vai movido por pés involuntários
e endoidece ser eu a percebê-lo .
Sentam-no à mesa de um café
num andaime ou sob um pinheiro
tanto faz desde que se esqueça
que é homem à espera que cresça
a árvore que dá dinheiro .
Alimentam-no do ar proibido
de um sonho que não é dele
não tem mais que esse frasco de vidro
para fechar a estrela do norte.
E só o seu corpo abolido
lhe pertence na hora da morte .
Natália Correia
Saturday, November 17, 2012
Alfazema
E há palavras nocturnas
palavras gemidos
palavras que nos sobem
ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras
nunca escritas
palavras impossíveis de
escrever
por não termos connosco cordas
de violinos
nem todo o sangue do mundo nem
todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes
escrevem muito alto
muito além do azul onde
oxidados morrem
palavras maternais só sombra
só soluço
só espasmos só amor só solidão
desfeita
Entre nós e as palavras, os
emparedados
e entre nós e as palavras, o
nosso dever falar .
Mario Cesariny
Saturday, November 10, 2012
Violetas
Mas eu , em cuja alma se refletem
As forças todas do universo ,
Em cuja reflexão emotiva e sacudida
Minuto a minuto , emoção a emoção ,
Coisas antagônicas e absurdas se sucedem
Eu o foco inútil de todas as realidades ,
Eu o fantasma nascido de todas as sensações ,
Eu o abstrato , eu o projetado no écran ,
Eu a mulher legítima e triste do Conjunto .
Eu sofro ser eu através disto tudo ,
como ter sede sem ser de água .
Álvaro de Campos
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