Saturday, October 20, 2012
Alfazema
Que medo tenho
de ir perdendo a sorte
em armários de gente imperfeita . . .
António Franco Alexandre
Saturday, October 13, 2012
Violetas
Realmente, vivemos muito sombrios !
A inocência é loucura .
Uma fronte sem rugas denota insensibilidade .
Aquele que ri ainda não recebeu a terrível notícia que está para chegar .
Que tempos são estes , em que é quase um delito
falar de coisas inocentes.
Pois implica silenciar tantos horrores !
Esse que cruza tranqüilamente a rua
não poderá jamais ser encontrado
pelos amigos que precisam de ajuda ?
É certo . . . ganho o meu pão ainda ,
Mas acreditai-me . . . é pura casualidade .
Nada do que faço justifica
que eu possa comer até fartar-me .
Por enquanto as coisas me correm bem
[ se a sorte me abandonar estou perdido]
E dizem-me . . . Bebe , come ! Alegra-te , pois tens o quê !
Mas como posso comer e beber,
se ao faminto arrebato o que como ,
se o copo de água falta ao sedento ?
E todavia continuo comendo e bebendo .
Também gostaria de ser um sábio .
Os livros antigos nos falam da sabedoria ...
é quedar-se afastado das lutas do mundo
e , sem temores ,
deixar correr o breve tempo.
Mas evitar a violência ,
retribuir o mal com o bem ,
não satisfazer os desejos , antes esquecê-los
é o que chamam sabedoria .
E eu não posso fazê-lo .
Realmente , vivemos tempos sombrios.
Para as cidades vim em tempos de desordem ,
quando reinava a fome .
Misturei-me aos homens em tempos turbulentos
e indignei-me com eles.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.
Comi o meu pão em meio às batalhas .
Deitei-me para dormir entre os assassinos .
Do amor me ocupei descuidadamente
e não tive paciência com a Natureza .
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.
No meu tempo as ruas conduziam aos atoleiros .
A palavra traiu-me ante o verdugo.
Era muito pouco o que eu podia.
Mas os governantes se sentiam , sem mim , mais seguros , espero.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.
As forças eram escassas .
E a meta a chava-se muito distante.
Pude divisá-la claramente ,
ainda quando parecia , para mim , inatingível .
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra .
Vós , que surgireis da maré
em que perecemos,
lembrai-vos também ,
quando falardes das nossas fraquezas ,
lembrai-vos dos tempos sombrios
de que pudestes escapar .
Iamos , com efeito ,
mudando mais freqüentemente de país
do que de sapatos ,
através das lutas de classes ,
desesperados ,
quando havia só injustiça e nenhuma indignação .
E , contudo , sabemos
que também o ódio contra a baixeza
endurece a voz.
Ah , os que quisemos
preparar terreno para a bondade
não pudemos ser bons .
Vós , porém , quando chegar o momento
em que o homem seja bom para o homem ,
lembrai-vos de nós
com indulgência .
Bertolt Brecht
Saturday, October 06, 2012
Alfazema
Eu sou o caule
dessas
trepadeiras sem classe ,
nascidas
na frincha das pedras . . .
Bravias
.
Renitentes
.
Indomáveis
.
Cortadas .
Maltratadas
.
Pisadas
.
E
Renascendo
.
Cora Coralinda
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