Monday, May 28, 2012
Alfazema
Os homens temem as longas viagens ,
/
Por isso os seus passos os levam
de regresso a casa , às veredas da infância ,
ao velho portão em ruína , à poeira
das primeiras , das únicas lágrimas .
Quantas vezes em
desolados quartos de hotel
esperei em vão que me batesses à porta ,
voz da infância , que o teu silêncio me chamasse !
/
Agora só quero dormir um sono sem olhos
/
Só quero um sítio onde pousar a cabeça .
Manuel António Pina
Friday, May 25, 2012
Violetas
Mão que fala
que nega
que acusa
que oferece
Mão que trata
que acaricia
que aplaude
que cumprimenta
Mão que oculta
que rouba
que bate
que mata
Mão que reza
Que suplica
Que alimenta
Que representa
Mão que desenha
que molda
que pinta
que talha
Mãos sujas na
riqueza
Mãos limpas, na
pobreza
Mãos lavadas do
rico
Mãos enegrecidas do
pobre
Mãos no peito,
falsidade
Mãos fechadas,
avareza
Mãos nas costas,
moleza
Mãos nos bolsos,
preguiça
Mão oleada do
mecânico
Mão calejada do
cavador
Mão tratada do
escriturário
Mão escamada do
pescador
Mãos com mãos na
amizade
Que os povos dêem as
mãos
Que os homens se
encontrem
Friday, May 18, 2012
Alfazema
E de súbito desaba o silêncio .
É um silêncio sem ti ,
sem álamos , sem luas .
Só nas minhas mãos
ouço a música das tuas .
Eugénio de Andrade
Friday, May 11, 2012
Violetas
Ao triunfo maior , avante pois !
O meu destino é outro . . . é alto e é raro.
Unicamente custa muito caro ...
A tristeza de nunca sermos dois . . .
Mário de Sá Carneiro
Friday, May 04, 2012
Alfazema
Quem? O infinito ?
Diz-lhe que entre .
Faz bem ao infinito
estar entre gente .
Uma esmola?
Coxeia?
Ao que ele chegou !
Podes dar-lhe a bengala
que era do avô.
Dinheiro?
Isso não!
Já sei , pobrezinho ,
que em vez de pão
ia comprar vinho . . .
Teima ?
Que topete !
Quem se julga ele
se um tigre acabou
nesta sala em tapete ?
Para ir ver a mãe ?
Essa é muito forte !
Ele não tem mãe
e não é do Norte . . .
Vítima de quê ?
O dito está dito.
Se não tinha estofo ,
quem o mandou ser
infinito ?
Alexandre O’Neill
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