Olho por olho , e o mundo ficará cego .











Mahatma Gandhi









Saber


Vi _Ver .



Friday, September 30, 2011

Violetas

Porque vieste ?
Não chamei por ti !
Era tão natural o que eu pensava ,
Nem triste , nem alegre , de maneira
Que pudesse sentir a tua falta ...
E tu vieste ,
Como se fosses necessária !


Poesia  
nunca mais venhas assim  ...
Pé ante pé , cobardemente oculta
nas ideias mais simples .
Nos mais ingénuos sentimentos ...
Um sorriso , um olhar , uma lembrança ...
_ Não sejas como o Amor !


É verdade que vens , como se fosses
uma parte de mim que vive longe ,
Presa ao meu coração
Por um elo invisível .
Mas não regresses mais sem que eu te chame ,
_ Não sejas como a Saudade !


De súbito , arrebatas-me , através
De zonas espectrais , de ignotos climas .
E , quando desço à vida, já não sei
Onde era o meu lugar ...
Poesia
 nunca mais venhas assim .
_ Não sejas como a Loucura !


Embora a dor me fira , de tal modo
Que só as tuas mãos saibam curar-me ,
Ou ninguém , se não tu , possa entender
O meu contentamento ...
Não venhas nunca mais sem que eu te chame .
_ Não sejas como a Morte !



Carlos   Queirós

Saturday, September 24, 2011

Alfazema

Não fugir.
Suster  o  peso  da  hora  ,  sem palavras minhas e sem os sonhos
fáceis , e  sem  as  outras  falsidades .
Numa espécie de morte mais terrível
ser de mim despojado ,  ser
abandonado aos pés ,  como um vestido .

Sem pressa atravessar a asfixia .
Não vergar .
 Suster o peso da hora
Até soltar sua canção intacta   ...



Cristovam   Pavia

Friday, September 16, 2011

Violetas





















Sozinho  de  brancura , eu  vago ...
Asa
de  rendas  que   entre  cardos  só flutua  ...
Triste  de  mim ,  que  vim  de  alma  prà  rua ,
E  nunca  a  poderei  deixar  em  casa ...




Mário de Sá  Carneiro

Saturday, September 10, 2011

Alfazema





















Tenho quarenta janelas,
nas paredes do meu quarto ,
sem vidros nem bambinelas ,
posso ver através delas ,
o mundo em que me reparto.


Por uma entra a luz do sol ,
por outra a luz do luar ,
por outra a luz das estrelas ,
que andam no céu a rolar.


Por esta entra a Via Láctea ,
como um vapor de algodão ,
por aquela a luz dos homens ,
pela outra a escuridão.


Pela maior entra o espanto ,
pela menor a certeza ,
pela da frente a beleza ,
que inunda de canto a canto.


Pela quadrada entra a esperança ,
de quatro lados iguais
quatro arestas , quatro vértices ,
quatro pontos cardeais.


Pela redonda entra o sonho ,
que as vigias são redondas ,
e o sonho afaga e embala ,
à semelhança das ondas.


Por além entra a tristeza ,
por aquela entra a saudade ,
e o desejo, e a humildade ,
e o silêncio, e a surpresa.


E o amor dos homens , e o tédio ,
e o medo , e a melancolia ,
e essa fome sem remédio ,
a que se chama poesia .


E a inocência , e a bondade ,
e a dor própria , e a dor alheia ,
e a paixão que se incendeia ,
e a viuvez , e a piedade.


E o grande pássaro branco ,
e o grande pássaro negro ,
que se olham obliquamente ,
arrepiados de medo .


Todos os risos e choros ,
todas as fomes e sedes ,
tudo alonga a sua sombra ,
nas minhas quatro paredes.

Oh janelas do meu quarto ,
que vos pudesse rasgar ,
com tanta janela aberta ,
falta-me a luz e o ar .





António Gedeão
Bernard Scholl

Monday, September 05, 2011

Violetas
















Um dia quebrarei todas as pontes
Que ligam o meu ser, vivo e total ,
À agitação do mundo do irreal ,
E calma subirei até às fontes


Irei até às fontes onde mora
A plenitude, o límpido esplendor
Que me foi prometido em cada hora ,
E na face incompleta do amor


Irei beber a luz e o amanhecer,
Irei beber a voz dessa promessa
Que às vezes como um vôo me atravessa,
E nela  cumprirei  todo  o  meu  ser.



Sophia de Mello Breyner

Thursday, September 01, 2011

Alfazema













Venham leis e homens de balanças
mandamentos d'aquém e d'além  mundo.
Venham ordens , decretos e vinganças ,
desça em nós o juízo até ao fundo .
/
Mas quando nos julgarem bem seguros ,
cercados de bastões e fortalezas ,
hão-de ruir em estrondo os altos muros ,
e chegará o dia das surpresas .




José   Saramago  _   Os Poemas Possíveis ,  1966 _